Família Tedesco
Uma breve história de sua chegada ao Brasil e estabelecimento no Rio Grande do Sul
"Você sabia que 'tedesco', em italiano, significa 'alemão'?", foi a primeira coisa que me perguntou meu professor de italiano, no início da nossa primeira aula.
Para o bem ou para o mal, eu sabia, pois aquela não era a primeira — e nem a última — vez que alguém me fazia o mesmo questionamento. Quando fui questionada disso pela primeira vez e desconhecia do fato, ainda adolescente, gastei algumas horas na internet procurando entender o que isso significava, criando suposições e imaginando passados prováveis. Lembro de supor que, por serem "alemães" — e por não ter faltado muitas aulas de história e geografia na escola — , meus antepassados emigraram da (hoje) Alemanha, durante os conflitos anteriores ao século XVIII entre os povos que hoje formam as atuais Itália, Alemanha, Suíça, Áustria, França e outros. Essa suposição era ancorada nas histórias familiares que cresci ouvindo, de que antepassados antigos lutaram em — alguma — guerra e que, os que emigraram para o Brasil, o fizeram para evitar enfrentar a fome causada por outra guerra. Essa suposição me pareceu razoável e me satisfez por um tempo. Por um tempo.
Alguns anos depois, mais madura e com mais experiência em pesquisar utilizando fontes históricas, fui atrás de confirmar ou não essa historieta que imaginei anos atrás.
Já de antemão, adianto que não encontrei nenhum registro oficial de que algum — meu — ascendente Tedesco tenha participado de guerra alguma. Na verdade, encontrei documentos em que alegam que uma parte eram agricultores, outra parte, jornalistas; nesses últimos, uma longa linhagem de pessoas — sobretudo, homens — que trabalhavam com mídia, com transmissão de informação; era como se fosse um negócio de família passando de geração em geração (essa última parte, outra suposição minha). Curiosamente — ou não — , alguns anos após a emigração para o Brasil, o "casarão" dessa parte da família virou uma das sedes da Poste Italiane, equivalente ao Correio brasileiro, em Veneza, no norte da Itália. O norte da — atual — Itália faz fronteira com a França, Suíça, Áustria e Eslovênia; hoje em dia, entendendo um pouco de geopolítica e de história, percebe-se que alguma coisa pode estar certa na minha suposição inicial, afinal. Eles podem sim ter migrado dos povos germânicos para o norte da Itália, porém, para minha tristeza, essa talvez tenha sido o único ponto (possivelmente) correto da historinha adolescente.
Os Tedescos — pelo menos aqueles que eu descendo e tive acesso aos registros oficiais — não eram alemães; na verdade, eram austríacos, e só alguns deles. Explico a confusão. Muitos desses Tedescos austríacos residiam em "Tirol" até o século XVIII (por volta de 1800), uma região fronteiriça à região do Vêneto — no fim, praticamente todos os Tedescos eram da mesma parte da Itália: o norte. Acontece que Tirol, hoje, é uma região anexada à Itália, porém, durante o período de guerras entre a Itália e o Império Austro-Húngaro, era um território pertencente a esse último. Faziam parte do Império Austro-Húngaro às tradições e povos germânicos, o que justifica a história — e os apelidos — de Tedescos.
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Pesquisando um pouco mais sobre as origens da família, muita coisa se tornou demasiado confusa e inconclusiva. Uma das poucas coisas "unânimes" entre as fontes, por assim dizer, foi o brasão medieval da família, utilizado como "assinatura familiar" em tempos de disputa e para sinalizar propriedade privada. Segue abaixo, então, o suposto brasão medieval da família Tedesco.
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Veneza é a capital da região do Vêneto. Porém, por mais sedutor que seja ter ascendentes em Veneza, esse não é o caso, ao menos não "recentemente". Os Tedesco — lê-se: os “alemães” — eram muitos, e ocuparam toda a região do Vêneto; Veneza era apenas uma delas.
A partir de agora, falarei daqueles que tinham residência em Vicenza, uma província (equivalente a uma "microrregião", no Brasil) da região do Vêneto.
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Mais de 30 comuni (equivalente a “cidades”, no Brasil) fazem parte da província de Vicenza. Por volta de 1870, mais de 37 mil pessoas habitavam essas pequenas cidades, e, entre elas, muitos Tedesco, que se espalhavam sobretudo pelas comuni de Arcugnnano, de Breganze, de Montecchio Precalcino, de Rosà e entre outras.
Entre esses muitos Tedesco de Vicenza, falarei a partir de agora de um casal em específico, e de todos os frutos que dele foram gerados. São eles Giuseppe Tedesco e Teresa Valente.
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Giuseppe Tedesco (a partir de agora chamado de "Giuseppe I") e Teresa Valente chegaram em Veranópolis nos primeiros meses de 1890, ele com 75 e ela com 65 anos de idade. Com eles, vieram Angela Tedesco, de 70 anos, Giuseppe (a partir de agora chamado de "Giuseppe IV"), com 4 anos, e Antonio (a partir de agora chamado de "Antonio III"), com 2 anos de idade (SECRETARIA DA AGRICULTURA DO ARQUIVO HISTÓRICO DO RIO GRANDE DO SUL, fl. 78, n. 3067–72).
Giuseppe I e Teresa tiveram seis filhos: Antonio (o "Antonio I"), filho mais velho, Natale, Maria, Andrea Francesco, Angela e Giuseppe ("Giuseppe III").
Teresa faleceu em Veranópolis, antiga colônia "Alfredo Chaves", em Rio Grande do Sul, no ano de 1892, um ano após o falecimento de seu esposo, Giuseppe I, e dois anos após chegar no Brasil. Quem registrou o falecimento foi o seu filho, Giuseppe III.
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Veranópolis é uma cidade quente, mas agradável, com temperaturas raramente acima de 30ºC. É localizada no interior do Rio Grande do Sul, no sul do Brasil. Indo a fundo a etimologia da palavra, Veranópolis é a “cidade do veraneio”. Por “veraneio”, entende-se o ato de relaxar, de curtir e de aproveitar. Veranópolis, então, a cidade do relaxamento. Também é a capital brasileira da longevidade. O que uma coisa tem a ver com a outra eu deixo para a suposição particular.
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Antonio Tedesco, filho mais velho de Giuseppe I e Teresa, nasceu em 5 de fevereiro de 1845, na cidade de Breganze, na província de Vicenza, na região do Vêneto, no noroeste da Itália (não muito longe de Veneza). Antonio casou-se com Maddalena Vendramin, em 1874, em Montecchio Precalcino, também na província de Vicenza; uma cidade ao sul de Breganze. Juntos, o casal teve quatro filhos: Giuseppe (a partir de agora chamado de "Giuseppe II"), o mais velho, Lorenzo, Luigi Ottàvio e Giosué Angelo.
Giuseppe II e Lorenzo nasceram ambos em Montecchio Precalcino. O primeiro, em 08 de abril de 1874, e o segundo, em 1876. Luigui Ottàvio nasceu em 18 de janeiro de 1883, e Giosué Angelo, em 04 de outubro de 1885, ambos em Arcugnaro, também na província de Vicenza, uma cidade ao sul de Montecchio Precalcino, o que leva a crer que, com o passar dos anos, o casal Antonio e Maddalena foram se deslocando para cidades mais ao sul da província; talvez fugindo da fome, talvez em busca de melhores oportunidades ou, talvez, por propostas recebidas.
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Giuseppe II, filho de Antonio e Maddalena, casou-se com Regina Sgarbossa, em 23 de março de 1893, em Veranópolis, interior do Rio Grande do Sul. Juntos, o casal teve 14 filhos: Catharina, Ida, Elisa, Florindo, Maria, Antonio ( "Antonio neto"), Angelo, Catterina, Rosina, Pedro, Pierina, José, Pedro (vou chamar de "Pedro II") e Appolania, do mais velho ao mais novo.
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José Tedesco, filho de Giuseppe II e Regina, nasceu em 1912, em Guaporé, interior do Rio Grande do Sul, ao noroeste de Veranópolis. Casou-se com Genoefa Dambros em 1935, em Erechim, uma cidade a noroeste de Guaporé, localizada no interior do Rio Grande do Sul, próximo a divisa com Santa Catarina. Juntos, o casal teve ao menos 11 filhos: Regina, Dionísio, Fioravante, Zaire, Beijamin, Mariano, Salete, Valtuir, Ana, Ari e Claudes, do mais velho ao mais novo.
José faleceu em 04 de abril de 1988, em Chapecó, interior de Santa Catarina.
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Dionísio Tedesco, filho de José e Genoefa, nasceu em 19 de novembro de 1934, em Severiano de Almeida (na época, terceiro distrito de Erechim), Rio Grande do Sul. Quando tinha 26 anos, casou-se com Rosina Pesente, em 22 de outubro de 1960, em Chapecó, Santa Catarina — cidade ao norte de Erechim. Juntos, o casal teve 04 filhos: Astrogildo, Leonir, Valdecir e Valdemir, do mais velho ao mais novo. Dionísio faleceu em 25 de julho de 2022, em Abelardo Luz, interior de Santa Catarina, próximo a divisa com o estado do Paraná.
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Valdecir Tedesco, filho de Dionísio e Rosina, nasceu em 05 de junho de 1966, em Abelardo Luz, Santa Catarina. Quando tinha 25 anos, casou-se com Cleoni de Freitas, em 07 de setembro de 1991, em Abelardo Luz, Santa Catarina. Juntos, o casal teve duas filhas: Laura Vitória Tedesco e Ana Carolina Tedesco (eu), da mais nova para a mais velha.
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Eu nasci em 20 de novembro de 1998, em Abelardo Luz, Santa Catarina, e resolvi investigar mais a fundo a história da minha família paterna. Algumas das datas aqui são exatas (segundo documentos que eu consegui oficialmente), outras são suposições feitas por mim, ao montar a história e encaixar cada informação em seu devido lugar, e outras são datas que podem ser exatas ou não, pois estão em documentos que encontrei nas diversas buscas que realizei, mas que não cheguei a confirmar com as entidades oficiais. De todo modo, as fontes estão comigo. Caso você tenha algum grau de parentesco e se interessar em receber esses documentos, deixe-me saber em anacarolinaftedesco@gmail.com.
Bom, voltemos para a história. Vou me concentrar na parte da família Tedesco que se estabeleceu na colônia "Alfredo Chaves".
A colônia recebeu esse nome por menos de 10 anos, quando foi renomeada como "Veranópolis", em 1898. O motivo da renomeação deveu-se ao fato de existir, no estado do Espírito Santo, outro município com o nome "Alfredo Chaves"; uma vez que a cidade capixaba era mais antiga, coube à cidade gaúcha alterar o seu nome. Enfim, seguindo.
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A família Tedesco que se estabeleceu na então colônia Alfredo Chaves chegou em datas diferentes, em grupos diferentes, porém quase todos vieram da mesma região italiana: Vêneto.
Ao todo, 22 integrantes da família foram registrados no livro Registro de Colonos dessa localidade. De acordo com essa fonte (Registro de Colonos), os últimos a chegarem foram: Giuseppe I, o avô do meu trisavô, que chegou no Brasil com 75 anos, Angela, sua irmã, que chegou com 70 anos, Teresa, sua esposa, que chegou com 65 anos, Giuseppe IV, 4 anos, Antonio III, com 2 anos, esses dois últimos, seus netos. Esse grupo chegou provavelmente no final de 1890 ou início de 1891.
Vieram também Giacomo Tedesco, 39 anos, Carlota, sua esposa, com 36 anos, e suas filhas Angela, 13 anos, Carlina, 10, Elisa, 7, Seconilda, 5, Amália, 3, e Augusto, 1, formando um grupo familiar que chegou em Alfredo Chaves ao longo de 1890. Na mesma data, chegaram Primo Tedesco, 56 anos, e Margherita, sua esposa, com 54 anos.
Esses foram os últimos grupos de Tedescos a chegarem em Alfredo Chaves.
Os primeiros foram: Antonio Tedesco (filho de Giuseppe I), que chegou com 44 anos, sua esposa, Maddalena Vendramin, que chegou com 43 anos, e seus quatro filhos: Giuseppe (o "Giuseppe II", meu trisavô), que chegou com 14 anos, Lorenzo, 12 anos, Luigui Ottàvio, que chegou com 6 anos, e Giosué Angelo, o caçula, que chegou com 4 anos. Esse grupo familiar chegou na colônia de Alfredo Chaves em 18 de março de 1890, e foi estabelecido em seu pedaço de terra em 26 de março de 1890. A referência completa da terra dos recém-chegados era 3ª seção, 1ª série, oeste, lote 27. O cadastro da família estava localizado na folha 78, e o número dos familiares ia de 3.067 a 3.072 (número de imigrantes naquela colônia até então).
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De acordo com os arquivos do estado do Rio Grande do Sul, alguns imigrantes italianos que chegaram em Alfredo Chaves adquiriam as terras (lotes) do governo imperial a prazo, para pagarem com os frutos da terra ao longo dos anos, e outros imigrantes ganharam suas terras, juntamente com algumas ferramentas e sementes; tudo "pronto" para plantar e colher os frutos da terra. De acordo com Thum (2014), os imigrantes pobres compravam as terras, enquanto os ricos ganhavam, como contraponto e incentivo para a permanência naquela localidade, com intuito de intensificar o povoamento da região e, simultaneamente, promover o branqueamento da população.
De acordo com esse autor, cada família recebeu/comprou um lote de 25 hectares, em regiões que ora eram boas e prontas para o plantio (embora cobertas por árvores e matagal), ora eram íngremes e pedregosas, exigindo maior tempo de "preparo" da terra para plantação. Ainda segundo Thum (2014), a demarcação da propriedade de cada família era feita com as pedras retiradas da terra, e uma vez que as pedras eram retiradas para a construção de cercas e das casas em que a família viria a morar, bem como as florestas eram derrubadas, dava-se o início o uso da terra para a lavoura (https://www.researchgate.net/publication/307575221_DIFERENCAS_ENTRE_PROJETO_E_IMPLANTACAO_-_COLONIA_DE_ALFREDO_CHAVES_1884).
Os arquivos do estado do Rio Grande do Sul trazem evidências complementares:
"Tão logo chegavam ao local, derrubavam o mato e iniciavam o plantio das roças, desenvolvendo a agricultura de subsistência. Com a madeira e as pedras retiradas da terra, construíam as moradias e, aos poucos, iam transformando o local. Quando os colonos já estavam estabelecidos, tropeiros e carroceiros promoviam o transporte dos produtos entre as colônias, sendo o escambo uma das formas de comercialização. Produtos como queijo, crina e couro eram trocados por sal, açúcar, arame, polvilho e outras miudezas. Dessa forma, os imigrantes conseguiram comercializar o que produziam e suprir as necessidades que tinham". (https://www.veranopolis.rs.gov.br/uploads/campanha/162/wyeE7XIRmeHhdPW5YoJKasKOB1NvdKCL.pdf)
Com base nesses artigos, pode-se supor, então, que, embora Antonio I e Maddalena (e filhos) tenham chegado em Alfredo Chaves em 18 de março de 1890 e se estabelecido no seu lote em 26 de março de 1890, o uso da terra para frutos próprios não foi instantâneo, pois precisavam preparar o terreno para o plantio e construir casas para se abrigarem na nova cidade. Até o momento, não encontrei evidências de quanto tempo esse processo envolvia em sua totalidade.
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Segundo os registros da Marinha brasileira, cerca de 483 passageiros desembarcaram do vapor “Bourgogne**" no porto do Rio de Janeiro, ao dia 25 de fevereiro de 1890. Entre esses passageiros, na família de número 359, do número 68 ao 73, estavam Antonio I, Maddalena e seus filhos. Segundo os registros desse navio, disponíveis aqui, a família embarcou em Marselha, na França — o código da rota na classificação da Marinha brasileira pode ser encontrado por "BR_RJANRIO_OL.0.RPV, PRJ.4023"*. Informações desse navio mostram que, na época, a viagem a vapor do porto de Marselha ao porto do Rio de Janeiro levava entre 20 e 30 dias — levando a crer, então, que Antonio I e família embarcaram no final de janeiro de 1890, poucos dias após Luigui Ottàvio fazer anos.
A família viajou de terceira classe, destinada aos imigrantes italianos que foram pagos pelo governo imperial brasileiro para emigrarem; é bastante provável que a família tenha ganhado os bilhetes de passagem. A viagem dos passageiros desta classe foi feita no porão do navio — um lugar escuro, com pouca ventilação, úmido e superlotado, ou seja, em péssimas condições. Segundo o relatório de bordo do Bourgogne, uma criança nasceu embalada pelas águas do Atlântico, 9 crianças vieram a óbito durante a viagem, vítimas de sarampo, e algumas outras desembarcaram com sintomas da doença, sendo destinadas diretamente à Ilha das Flores.
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Chegados no Rio de Janeiro e devidamente cadastrados no sistema nacional, os imigrantes foram direcionados para a Hospedaria Ilha das Flores, ainda no Rio de Janeiro, e posteriormente designados para seus destinos finais. No caso de Antonio I e sua família, após uma curta estadia na Hospedaria, foram deslocados "a vapor" para Porto Alegre, capital do Rio de Grande do Sul. De lá, os registros mostram que, a cavalo, foram para a colônia de Alfredo Chaves, chegando no dia 18 de março de 1890, quase um mês após desembarcarem no Brasil. Uma vez estabelecidos em seu pedaço de terra, era hora de trabalhar na mesma.
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Cerca de 5 anos após a chegada a Alfredo Chaves, Giuseppe II casou-se com Regina Sgarbossa. Segundo consta em seu registro casamento, ocorrido em 23 de março de 1893 (na verdade, nessa data o casal se apresentou perante o juiz de paz pela primeira vez, sendo efetivado seu casamento apenas em 06 de abril de 1893, após realizados todos os trâmites legais, pois, naquela época, o registro de casamento não era feito de maneira instantânea como é feito atualmente).
Giuseppe II casou-se com 19 anos, e Regina, com 17, um ano após emigrar da Itália, em 1892.
Segundo o passaporte da família Sgarbossa, Regina saiu da Itália com 16 anos, na companhia de seu pai, Valentino Sgarbossa, sua mãe, Anna Toffanelo, e suas irmãs, Fiorentina, 15 anos, e Geovana, 10 anos. O casal Anna e Valentino tiveram ainda duas filhas italianas, porém, por algum motivo, provavelmente por falecimento (ou casamento com italianos), elas não vieram para o Brasil junto com a família; são elas Caterina Sgarbossa, a primogênita da família (9 anos mais velha que Regina), e Joanna, a caçula da família (7 anos mais nova que Regina).
A família Sgarbossa era de província diferente da província da família Tedesco; eram de Cittadella, na província de Padova, na região do Vêneto.
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Voltando para a família Tedesco. Uma curiosidade sobre Antonio I é que seu nascimento foi registrado em 05 de janeiro de 1874, apenas 13 dias antes de se casar com Maddalena, levando a crer que registrou seu nascimento apenas porque precisava dessa informação para conseguir efetivar seu casamento com Maddalena. A certidão de nascimento de Antonio pode ser encontrada aqui https://antenati.cultura.gov.it/ark:/12657/an_ua35867782/Lam3BbJ, e o registro de casamento entre ele e Maddalena pode ser encontrado aqui https://antenati.cultura.gov.it/ark:/12657/an_ua35867782/Lokmd8A, enquanto o registro de nascimento de Maddalena, filha de Lorenzo Vandremin e Ana Marenda pode ser encontrado aqui https://antenati.cultura.gov.it/ark:/12657/an_ua35867782/5YmzdMP.
Para não haver desigualdade de gênero nas curiosidades do casal, uma curiosidade sobre Maddalena Vendramin é que seu nome é uma homenagem a sua avó paterna, Maddalena Roziero. Além disso, Lorenzo Tedesco, o segundo filho do casal Maddalena e Antonio, é uma homenagem ao pai de Maddalena, Lorenzo Vendramin.
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Um ano após o casamento entre Giuseppe II e Regina, nasceu o primeiro de seus 14 filhos; entre eles, José, meu bisavô.
José teve 11 filhos, entre eles, Dionísio, meu avô.
Dionísio teve 4 filhos, entre eles, Valdecir, meu pai, que teve 2 filhas.
Com isso, é possível perceber como a quantidade de filhos aumentou (Giuseppe II tinha apenas 3 irmãos) quando a família começou a trabalhar na terra, e foi diminuindo de geração em geração, ilustrando como a prole era vista como insumo de trabalho, e, a medida em que a família foi tendo algum avanço tecnológico (produzir a mesma quantidade, mas com menos insumos — ou filhos), o número de filhos passou a diminuir.
Além disso, com o tempo, deu para observar que a família avançou para outros territórios e até outro estado. Em menos de 100 anos, os Tedescos dessa família saíram do interior do Rio Grande do Sul, há menos de 200km de distância de Porto Alegre, para a divisa com Santa Catarina, e posteriormente para Santa Catarina, chegando até a divisa com o Paraná.
Outra coisa que me chamou atenção foi o fato de que, mesmo emigrando da Itália, Giuseppe II casou-se com uma mulher italiana, talvez pela língua- afinal, ambos tinham acabado de chegar no Brasil -, talvez pelos costumes e criações semelhantes. Esse arranjo era esperado. Mas surpreende é que, seu filho (e meu bisavô) José também se casou com descendente de italianos; Genoefa, sua esposa, tinha avós que emigraram da província de Belluno, também da região de Vêneto. Mas mais do que isso, meu avô, Dionísio, também se casou com descendente de italianos, sendo o meu pai o primeiro a quebrar essa sequência. Isso é, no mínimo, curioso.
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Lembro-me das conversas que tive com minha avó, Rosina Pesente, sobre como havia conhecido o meu avô, pois eram de cidades diferentes, embora ambas do Rio Grande do Sul. Segundo ela, conheceram-se em uma festa, na comunidade de algum deles, provavelmente da minha avó. Essas festas eram bastante comuns antigamente, tinha bastante vinho, queijos e músicas tradicionais italianas, e era assim que se conhecia gente, disse a minha avó. Eram festas da celebração da cultura italiana, sendo de interesse somente descendentes de italianos, sendo esse o idioma falado, o que justifica os casamentos com pessoas da mesma cultura — e, praticamente, da mesma região originária.
Lembro que a minha nona não falava português, somente em "dialeto de vento", conforme cresci acreditando, até descobrir que, na verdade, o que eu havia compreendido errado era "dialeto de Vêneto".
Poderia escrever muitos outros parágrafos sobre as histórias que cresci ouvindo sobre a família Tedesco — e talvez o faça, porém em outro texto. Gostaria de deixar, então, a recomendação da leitura da monografia de Janaina Caborin Marin, intitulada "Hábitos de leitura de idosos de Veranópolis — RS: estudo sobre memórias", cuja leitura é extremamente agradável, interessante e informativa. Em poucas páginas, Janaina entrevista 8 idosos que, embora descendentes de imigrantes (italianos, alemães e poloneses), foram nascidos e criados em Veranópolis. Os idosos relembram hábitos e histórias de seus tempos de infância — em contato com os "nônos" imigrantes — e relatam historietas que cresceram ouvindo (e passando para as gerações futuras; algumas delas, inclusive, chegaram até a minha infância). Entre as pessoas entrevistadas pela autora, está Regina Rosa Tedesco, sem dúvida parente distante. Vale a pena a leitura atenta. https://repositorio.furg.br/bitstream/handle/1/5883/H%C3%A1bitos%20de%20leitura%20de%20idosos%20de%20Veran%C3%B3polis%20%E2%80%93%20RS%20estudo%20sobre%20mem%C3%B3rias.pdf?sequence=1
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Algumas referências que utilizei para elaborar esse texto:
- *Para encontrar essa informação, usei o portal do BNDES para o porto do Rio de Janeiro, https://bases.an.gov.br/rv/menu_externo/menu_externo.php. Uma vez encontrados registros do cadastro de Antonio I e família, pesquisei no Arquivo Nacional, https://sian.an.gov.br/. Um guia que me auxiliou nessa busca (o Arquivo Nacional é gigante e bastante confuso) foi esse post https://www.oriundi.net/italia/como-encontrar-o-registro-de-imigrantes-italianos-no-brasil.html, e no portal do BNDES, foi o post http://www.origines.com.br/blog/como-pesquisar-imigrantes-porto-do-rio-de-janeiro/. O site https://www.sobrenomesitalianos.com.br/ também foi útil.
- **Uma curiosidade sobre esse navio foi que ele naufragou poucos anos após deixar a família Tedesco em terras brasileiras. http://alernavios.blogspot.com/2010/08/la-bourgogne.html.
- Para entender melhor como se deu a formação do território italiano ao longo do tempo, principalmente a região do Vêneto, utilizei como fonte as anotações de Nathalie Vedovotto, pesquisadora dos povos europeus antigos (disponível nesse link https://antenati.cultura.gov.it/wp-content/uploads/2020/06/G%C3%A9n%C3%A9alogie_Italie.pdf?lang=pt-pt, em francês). Esse arquivo auxilia a entender como estão relatadas as informações nos documentos oficiais, bem como onde procurar (caso a sua ascendência não seja dos mesmos "Tedescos" que eu), como procurar, em quais portais e eventuais custos, tudo com auxílio de ferramentas visuais.